A recente decisão do ex-presidente americano Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros reacendeu o temor de uma guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos.
O anúncio foi feito em uma carta enviada a Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira (9/7) e chega em um momento em que o comércio entre os dois países atingia patamares históricos.
Mesmo após a imposição de tarifas de 10% desde abril, as exportações brasileiras para o mercado americano somaram US$ 16,7 bilhões nos primeiros cinco meses de 2025 — um avanço de 5% em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
Já as importações brasileiras de produtos dos EUA alcançaram US$ 17,7 bilhões, alta de quase 10%.
Ainda assim, o Brasil acumula déficit na balança comercial com os Estados Unidos — o que contraria a justificativa de Trump de que o país mantém um “déficit insustentável” no comércio com o Brasil.
A ameaça de uma escalada de tarifas preocupa empresários dos dois lados. A Amcham Brasil destaca que, mesmo em cenário adverso, o comércio bilateral vem crescendo de forma constante, mostrando o peso estratégico dos Estados Unidos como destino dos bens industrializados brasileiros — que representam quase 80% das exportações para lá.
De aeronaves a carne bovina: quem mais perde?
Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o aumento das tarifas pode afetar diretamente setores que respondem por uma fatia expressiva das vendas externas do Brasil aos EUA. Aviões, combustíveis, alimentos processados, produtos químicos, máquinas e equipamentos estão no topo da lista.
Empresas como Embraer e Petrobras figuram entre as maiores fornecedoras de produtos brasileiros para o mercado americano. Além disso, itens como carne bovina, café e suco de frutas, que registraram saltos expressivos em exportações nos últimos meses, também podem ser impactados.
Somente entre janeiro e maio, a exportação de carne bovina para os EUA cresceu quase 200%, enquanto os embarques de sucos avançaram mais de 90% e os de café subiram 42%.
Esse desempenho positivo ocorreu mesmo com a tarifa de 10%, graças à demanda elevada no mercado americano e a fatores climáticos que reduziram a produção local.
Já setores como celulose, ferro-gusa e equipamentos de engenharia sentiram mais rapidamente o impacto da tarifa anterior. Para a Amcham, além das taxas, pesa a concorrência de nações que contam com acordos preferenciais de comércio com os EUA, como o Canadá.
Efeitos em cadeia na indústria
Atualmente, mais de 3,6 mil empresas americanas têm investimentos no Brasil e quase 3 mil empresas brasileiras mantêm operações nos EUA. A CNI calcula que, em 2024, cada bilhão de reais exportado para o mercado americano gerou cerca de 24 mil empregos no Brasil, além de movimentar mais de R$ 500 milhões em salários e R$ 3,2 bilhões em produção.
Os setores de insumos produtivos — como aço, alumínio, petróleo bruto, minério de ferro e derivados — respondem por mais da metade das exportações e importações entre os países. Esses segmentos, que já enfrentam tarifas de 50% sobre aço e alumínio desde junho, temem novas quedas nas vendas e impactos na geração de empregos.
Apesar de o volume de exportação de aço semiacabado ter subido no acumulado do ano, especialistas já observam sinais de retração nos embarques. Para a CNI, a continuidade dessa escalada de tarifas pode representar um prejuízo significativo para a indústria nacional, altamente conectada à cadeia produtiva americana.
Em nota, a Confederação defende que a relação entre Brasil e EUA é de longo prazo e traz ganhos mútuos, lembrando que os americanos têm superávit comercial com o Brasil há mais de uma década. Segundo a entidade, a tarifa efetiva cobrada pelo Brasil de produtos americanos em 2023 foi de apenas 2,7%, muito abaixo do teto estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
O presidente da CNI, Ricardo Alban, alerta para o risco de uma ruptura na relação bilateral: “Não existe justificativa econômica para uma tarifa tão alta. Essa medida pode causar danos profundos à nossa indústria, que depende de insumos e mantém forte integração com o setor produtivo dos EUA.”
Próximos passos
O governo brasileiro sinalizou que poderá responder com tarifas sobre importações americanas, o que já levou Trump a declarar que qualquer retaliação será rebatida com novas medidas restritivas. Diante desse cenário, cresce o receio de uma guerra comercial que pode abalar não apenas as trocas bilaterais, mas também a confiança de investidores.
Enquanto isso, empresários, associações de classe e especialistas monitoram de perto as negociações, torcendo por um entendimento que evite prejuízos maiores para a economia brasileira — que ainda vê nos EUA um de seus principais parceiros e mercados consumidores.
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